A Groenlândia está derretendo rapidamente. A culpa é das mudanças climáticas. Esta não é uma boa notícia, mas um novo artigo aponta um benefício inesperado como resultado de todo esse gelo perdido: areia.
O mundo precisa de areia — em parte, para se preparar para a elevação do nível do mar e reforçar áreas litorâneas —, e a Groenlândia poderia desempenhar um papel importante no fornecimento desse material. Este artigo, que não é um estudo, mas, sim, uma perspectiva na revista Nature Sustainability, é o resultado de um estudo separado que os autores publicaram em 2017, depois que perceberam que partes da costa da Groenlândia estavam crescendo. Após o surgimento de informações sobre o derretimento da camada de gelo nos modelos, a equipe percebeu que o crescimento dos deltas arenosos de rios estava diretamente relacionado à perda de gelo.
“Vimos isso e sentimos que precisamos compartilhar esse conhecimento com os formuladores de políticas”, disse ao Gizmodo Mette Bendixen, pesquisadora do Instituto de Pesquisas Árticas e Alpinas da Universidade do Colorado em Boulder. “Cabe à Groenlândia descobrir se isso [recursos de areia] é algo que eles pretendem explorar.”
A camada de gelo da Groenlândia vem perdendo cerca de 269 bilhões de toneladas por ano desde 2002. Isso resultou na acumulação de areia nas regiões costeiras da ilha porque, à medida que o gelo derrete, ele flui pelos rios e transporta sedimentos para o mar. A areia levada às costas da Groenlândia a cada ano tem um valor de mercado equivalente a mais da metade do produto interno bruto do governo, que era de cerca de US$ 2,22 bilhões em 2015, segundo este comunicado de imprensa.
O artigo não diz qual a quantidade de areia que poderia resultar de mais derretimento no futuro, mas ela deve subir à medida que a camada de gelo continua a derreter. Atualmente, há uma abundância de sedimentação ocorrendo na costa sudoeste da ilha, em particular, e ao longo da costa nordeste.
O artigo também não faz uma análise econômica adequada para ver se o boom econômico de uma indústria de areia — na forma de empregos e exportações — vai compensar os resultados econômicos negativos que atingirão a Groenlândia devido às mudanças climáticas. Em vez disso, os autores queriam levantar a questão para que o governo groenlandês pudesse dar uma olhada mais de perto.
“É como se estivéssemos entregando essa ideia aos formuladores de políticas”, disse Bendixen.
A mudança climática já está acontecendo, e as pessoas no Ártico já estão sentindo seus impactos. A economia da Groenlândia atualmente depende muito da pesca e mineração. A mineração de areia também pode ajudar a diversificar suas fontes de receita, argumenta o artigo. A ilha gigante abriga uma pequena população, com pouco mais de 56 mil pessoas vivendo por lá — e essa população, que é em grande parte indígena, está encolhendo.
“Acreditamos que a população da Groenlândia realmente possui excelentes habilidades para esse setor”, disse Bendixen ao Gizmodo.
No entanto, mergulhar no mundo da areia exigirá algumas análises importantes do ambiente. Esta ainda é uma forma de extração e mineração de recursos — e em uma área do Ártico que esteve, em grande parte, intocada. A remoção de sedimentos da água poderia dispersá-los, prejudicando os ecossistemas locais.
Se a Groenlândia decidir embarcar nessa jornada pela areia, seus sedimentos podem acabar em praias destruídas por furacões. O furacão Sandy deixou as praias de Coney Island devastadas, e as autoridades precisaram de mais de dois milhões de metros cúbicos de areia para reconstruí-las, de acordo com o artigo.
Além do litoral, a areia e o cascalho também se dirigem ao aterro rodoviário e ferroviário. Na verdade, essas são as substâncias mais mineradas do mundo, com 40 bilhões de toneladas extraídas a cada ano, totalizando aproximadamente o dobro do que é transportado por todos os rios do mundo.
“O mundo precisa de areia, e tem muita areia aqui”, disse Bendixen ao Earther.
A areia da Groenlândia pode ser a chave para ajudar na reconstrução, já que desastres naturais e o aumento do nível do mar erodem as costas. Seria ótimo, se não fosse apenas um efeito colateral de um problema gravíssimo da elevação do nível dos mares.