Helder assinou protocolo de intenções com representantes da CCCC. | Jailson Sam/Divulgação
Amaior empresa de infraestrutura da China avalia 26 projetos no Brasil que, somados, significam investimentos de 102 bilhões de reais. Deste montante, o Pará está recebendo 10 bilhões, considerado até o momento o maior investimento individual internacional já aportado no Brasil em todos os tempos. A China Communications Construction Company (CCCC), está de olho em grandes obras no Brasil e enxergou no Estado do Pará uma grande porta aberta para investimentos rentáveis.
Com faturamento global de US$ 70 bilhões – quase 300 bilhões de reais, equivalente à metade do PIB de um país como a Argentina – a empresa vai construir a principal ferrovia de ligação entre Marabá (regiões Sul e Sudeste do Pará) ao porto de Vila do Conde (Barcarena) com possibilidade de ligação com a Ferrovia Norte-Sul, aproveitando a intercessão com a Ferrovia Carajás.
Para a construção da ferrovia, a CCCC está investindo R$ 7 bilhões. A obra está prevista para começar no final de 2021. Em parceria com a Vale, o grupo China Communications Construction Company já havia anunciado a assinatura de memorando de entendimento para a instalação de uma laminadora de aço em Marabá de 300 mil toneladas anuais, com investimento total de R$ 3 bilhões, e que deve entrar em operação em 2023.
Após a assinatura do protocolo de intenções entre o Governo do Pará e os representantes da CCCC para a obra do corredor ferroviário Marabá/Barcarena, que aconteceu na última terça-feira (12), o governador Helder Barbalho detalhou o projeto.
Uma das novidades é que a nova ferrovia vai ter um novo traçado, aproveitando em 100% todas as possibilidades do ponto de vista econômico para o Estado. Ela vai interligar o sistema ferroviário do Pará com o restante do país via Ferrovia Carajás com a Norte-Sul
“Esse novo traçado tira o Pará do risco do isolamento ferroviário porque você tem a Ferrovia Carajás (que transporta minério de ferro para o Porto de Itaqui, no Maranhão) passando por Açailândia (no Maranhão) onde há o investimento de concessão federal da Norte-Sul de Açailândia para baixo. E não se previu na concessão da Norte Sul, Açailândia para cima, que seria o projeto original, que seria Estrela do Oeste até Barcarena”, lembra o governador. Este trecho não foi colocado pelo governo federal na concessão, reforça Helder Barbalho.
“Então com esse investimento – 7 bilhões - que o governo estadual conseguiu nós asseguramos efetivamente a ligação ferroviária interna no Estado, de um polo produtor de minério e de um polo produtor agrícola, somado à interligação com o sistema ferroviário nacional, já que a nova ferrovia vai estar ligada à ferrovia Carajás, que já está ligada à Norte-Sul”, explicou o governador.
Por essa razão, disse ele, estudos anteriores realizados por uma empresa contratada na época em que se tentou viabilizar o empreendimento serão praticamente refeitos em sua totalidade. “Os estudos da consultoria que haviam sido realizados serão pouco utilizados, uma vez que teremos modificação no traçado para permitir que a ferrovia Marabá/Barcarena seja também de integração nacional, ligada não apenas pelos portos de Vila do Conde (no Pará) e de Itaqui (no Maranhão) mas principalmente pela Ferrovia Norte-Sul”, detalhou.
CCCC E CONCREMAT
A China Communications Construction Company elegeu como setores prioritários para investimentos no Brasil portos, ferrovias, desenvolvimento urbano e indústria. A Ferrogrão está na mira dos chineses. A licença para construção da ferrovia deve ser leiloada no ano que vem.
A CCCC tem interesse especial nos projetos greenfield, ou seja, os de construção partindo do zero. A maioria das obras em vista segue o modelo de parcerias público-privadas com o governo federal e as administrações estaduais, mas também há projetos da iniciativa privada.
Em 2016, a CCCC comprou 80% da empresa brasileira de engenharia Concremat. Em 2017, arrematou 51% de um novo terminal privado no Porto de São Luís, no Maranhão, cujas obras são lideradas pela Concremat. Com 2.700 funcionários e faturamento da ordem de 550 milhões de reais, a Concremat tem ajudado a CCCC a levantar os projetos que seriam de interesse do gigante chinês no país. “Os chineses consideram o Brasil um parceiro estratégico e veem a crise econômica por que passamos como momentânea”, afirma Eduardo Salgado Viegas, vice-presidente de desenvolvimento de negócios da Concremat.
Transporte de passageiros
Outra novidade no novo projeto apresentado pelo governador Helder Barbalho à maior empresa de infraestrutura da China inclui também o transporte de passageiros. O governo estadual apresentou a nova proposta de viabilização econômica e financeira, que permitiu que a China Communications Construction Company investisse 7 bilhões de reais no Pará – o maior investimento da empresa até o momento no Brasil – com garantias de outras atividades e demandas minerais, como exemplo os estudos já avançados para exploração de bauxita na região de Rondon do Pará e em Paragominas.
Permitir o direito a outras operações, como o transporte de passageiros, por exemplo, e da produção do agronegócio também foi “a cereja do bolo”, na negociação entre o Pará e a CCCC. De acordo com o governador, o perfil do projeto é garantir carga para o minério, para o agronegócio e para o setor florestal, mas o transporte de passageiros também já se mostrou viável.
Até o início da obra de fato, várias etapas precisam ser cumpridas, como a regularização e desapropriação de terras ao longo do percurso da ferrovia, além do licenciamento ambiental e conclusão de projeto executivo. Todo esse trabalho será feito pela equipe técnica do Governo do Estado do Pará, que foi fundamental na elaboração da nova proposta apresentada aos chineses este ano, e que permitiu a viabilização do investimento bilionário.
Momento histórico para a infraestrutura no Pará
“É um momento histórico. Nós estamos falando de um investimento de R$ 7 bilhões, que representa o maior investimento em infraestrutura privada a realizar-se no Brasil neste momento. E assim que a obra estiver pronta, a logística do Estado ganha um upgrade fantástico, porque vamos interligar, pelo modal ferroviário, o Pará e o porto de Vila do Conde ao sistema ferroviário nacional”, comemorou Helder Barbalho no dia da assinatura do protocolo.
A previsão é que o novo corredor ferroviário ligando Marabá a Barcarena – e ao Porto de Vila do Conde – entre em operação no início de 2027. O governador lembrou que, efetivamente, esta é a primeira grande obra ferroviária do Pará. “A Ferrovia Carajás beneficia apenas a Vale e o Maranhão. Ficamos apenas vendo os trilhos e os vagões passarem pela ferrovia”, afirmou.
“Com essa ligação ferroviária, nos próximos 20 anos seremos o maior cluster portuário do país (clusters portuários são a união de diferentes ramos industriais em uma só região, passando pelos setores de operações portuárias, industrial e de serviços, além de ligações intermodais) perdendo apenas para o porto de Santos, já que 23% de toda movimentação portuária no Brasil são feitas em Santos”, disse Helder.
“Se falamos do segundo maior - e Vila do Conde é o porto que apresenta hoje o maior índice de crescimento entre os portos - com esta nova operação ferroviária e a hidrovia (Hidrovia Araguaia/Tocantins), nós consolidamos o Arco Norte e garantimos com isso que as operações em Vila do Conde se expandam ainda mais”, explicou o governador, sobre o futuro da infraestrutura no Pará a partir da obra bilionária que está por vir.
Por seu potencial econômico e estratégico, a nova ferrovia vai ser fator preponderante para a consolidação do Arco Norte, fronteira de desenvolvimento de integração do Brasil à logística do Canal do Panamá, com novas portas abertas ao mercado asiático, em especial à China.
HIDROVIA
Helder Barbalho garantiu que o Governo do Pará vai continuar lutando pela Hidrovia Araguaia/Tocantins, que depende da garantia de recursos do governo federal, uma vez que a gestão do presidente Jair Bolsonaro não destinou dinheiro para o derrocamento do Pedral do Lourenço.
“É claro que ainda temos outros desafios, a Ferrogrão (que vai ligar Sinop no Mato Grosso ao Porto de Miritituba, no Pará), por exemplo, é diferente deste novo corredor ferroviário que vamos iniciar. É também um desafio que vamos atrás. Estamos falando de uma ferrovia, que vai demandar uma grande articulação nacional. É uma segunda e importante agenda que vamos lutar e trabalhar por ela” assegurou o governador nesta entrevista exclusiva concedida ao DIÁRIO.
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