Base chinesa na Antártida cultiva hortaliças em condições extremas
Grupo de mulheres é formado por pessoas de 35 nacionalidades, a maioria com formação em áreas da tecnologia, engenharia e medicina
Grande Muralha, a estação de pesquisa da China, começou a operar em 1985
Diana Marcela Tinjacá/EFE – 08.01.2019
Binbin Wang e Li Wang, duas das 80 pesquisadoras que percorrem a Antártida no navio Ushuaia estavam radiantes com a inesperada visita feita à Grande Muralha, a base de pesquisa da China na ilha Rei George onde é possível cultivar hortaliças em condições extremas.
A proposta de conhecer o lugar apareceu no quinto dia da expedição que reúne mulheres líderes em diferentes disciplinas e que, juntas, têm a missão de enviar uma mensagem ao mundo sobre a urgência de fortalecer a participação feminina nas decisões que definem o futuro do planeta.
O grupo inclui pessoas de 35 nacionalidades, a maioria com formação em áreas da tecnologia, engenharia e medicina.
"Estou muito orgulhosa do meu país. É a primeira vez que esta estação recebe tantas mulheres pesquisadoras", disse, emocionada, à Agência Efe Binbin Wang, diretora de programa do Instituto de Mudança Climática e Desenvolvimento Sustentável da Universidade Tsinghua.
Binbin faz parte da expedição que zarpou no dia 31 de dezembro do Porto de Ushuaia, na Argentina. A viagem faz parte da Homeward Bound, um programa australiano apoiado pela empresa espanhola de infraestrutura e energias renováveis Acciona, que procura visibilizar a liderança da mulher em assuntos de interesse global como a mudança climática.
"Nunca pensei que poderíamos visitar esta estação antes. Entramos em contato com a estação, explicamos que somos um grupo internacional de mulheres cientistas e eles nos receberam", explicou Li.
A Grande Muralha, que começou a operar em fevereiro de 1985, foi a primeira estação de pesquisa chinesa na Antártida. Atualmente, ela serve para estudos sobre temas como biologia, vegetação e adaptação dos animais à mudança climática.
O percurso das 80 mulheres pela base foi produtivo, embora limitado. Um guia as acompanhou pela parte externa do grande complexo, que abriga 40 pessoas no verão e 12 no inverno. Os prédios têm grandes dimensões, mas em nenhum deles os visitantes podem entrar.
Pesquisadores chineses conseguiram criar ali uma estufa, onde cultivam pepino e berinjela para que a comunidade da base tenha uma sensação mais próxima a de estar em casa, mas esse local também tem acesso restrito.
"Como essas sementes não podem ser conseguidas na Antártida e são usadas as da China, os controles são grandes para evitar que haja qualquer tipo de dispersão no continente branco", explicou Li.
Ter uma estufa é um avanço em um lugar como a Antártida, onde os moradores humanos temporários das bases recebem alimentos periodicamente em cargas vindas de navios, geralmente do Chile ou da Argentina. Para conseguir uma "colheita", os cientistas da estação, cravada em uma rocha livre de gelo, conseguiram adaptar o lugar ao frio extremo, ao vento e, principalmente, a pouca intensidade de luz que caracterizam a Antártida.
"A ideia é manter uma temperatura similar à de Pequim ou as do norte da China durante o verão. Embora no inverno, a falta de luz obrigue o fechamento da estufa", esclareceu Li, pesquisadora da Universidade da Califórnia em Davis (Estados Unidos), ao ressaltar com orgulho este avanço.
Desde 1985, a China construiu quatro estações na Antártida, duas na última década.
"Fico muito feliz porque vejo que a China está cada vez mais aberta", concluiu Binbin.
A expedição Homeward Bound tem mais de dez paradas previstas, entre elas na base argentina de Carlini, na base americana de Palmer, na ucraniana Vernardsky e na ilha Pleneau. A empreitada se estenderá até 19 de janeiro e conta com a participação de Christiana Figueres, importante líder costa-riquenha na luta contra a mudança climática e que foi secretária executiva da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), da Organização das Nações Unidas, de 2010 a 2016.
Homeward Bound é uma iniciativa global para mulheres do campo de STEMM (Ciência, Tecnologia, Engenharia, Matemática e Medicina) visando aumentar a sua visibilidade como líderes no mundo.
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