Assim que o trem passa, os “empurradores de carrinho” de Manila colocam seus veículos improvisados nos trilhos e fazem subir seus passageiros, que evitam os enormes engarrafamentos da capital filipina colocando suas vidas em risco.
Todos os dias, dezenas de passageiros usam esses carrinhos de metal fabricados pelos próprios condutores para percorrer trechos da enorme rede de ferrovias da megalópole, de 12 milhões de habitantes.
Assim, os passageiros não só economizam tempo, mas também dinheiro, porque 10 pesos por viagem (US$ 0,10) é um modo barato de transporte que também os impede de viajar como sardinhas em latas nos ônibus lotados.
Mas os “empurradores de carrinho” e seus passageiros estão expostos ao risco permanente de um trem atingi-los se não saltarem na hora certa.
Foto de 19 de outubro mostra menino ajudando a empurrar carrinho de passageiros em linha de trem de Manila — Foto: Noel Celis/AFP
"Nosso trabalho é muito perigoso, você tem que conhecer os horários dos trens", diz René Vargas Almeria, de 57 anos, há 20 empurrando passageiros.
Aquela parte da estrada, de 1,2 km no bairro de Santa Mesa, é coberta por vinte trens por dia.
A popularidade desses “empurradores de carrinho” faz com que as autoridades tolerem a atividade com relutância.
Surpreendentemente, as vítimas não são tão frequentes quanto se poderia pensar. A polícia não faz estatísticas e diz que nem se lembra do último acidente fatal.
No entanto, todos os “empurradores de carrinho” se lembram bem de alguma ocasião em que foram salvos por muito pouco.
Foto de 19 de outubro mostra mãe com criança sentadas ao lado de linha de trem de Manila, aguardando para pegar um carrinho — Foto: Noel Celis/AFP
Rodolfo Maurello, de 60 anos, que transporta pessoas há duas décadas, lembra-se de um dia em que empurrava o carrinho cheio de passageiros sem perceber o trem que vinha logo atrás.
"O trem estava a poucos metros de distância", ele diz, explicando que se virou no último minuto para pedir ao motorista que parasse. "O guincho dos freios foi ensurdecedor."
Mas Maurello gosta de ser seu próprio patrão. Nos bons dias, ele ganha o equivalente a US$ 10 (cerca de R$ 40), o que lhe permite cobrir as necessidades de seus três filhos. Nas Filipinas, uma em cada cinco pessoas ganha menos de dois dólares por dia.
René Almeria estava destraído no momento em que um único passageiro olhou na direção oposta. "Eu virei a cabeça e vi o trem chegar, então joguei meu carrinho para fora dos trilhos, realmente escapamos por muito pouco."
O casal de empurradores de carrinho Tyson Aguha e Joan Acebo esperam por passageiros em linha de trem de Manila, em foto de dia 19 de outubro — Foto: Noel Celis/AFP
Manila sofre enormes engarrafamentos. Entre a infraestrutura insuficiente, a negligência nos transportes públicos e o aumento do número de veículos, leva horas para que seus habitantes viajem apenas alguns quilômetros.
A população da capital aumentou 50% entre 1995 e 2015, mas o investimento em estrutura não acompanhou o ritmo. Isso abre espaço para a engenhosidade como a dos “empurradores de carrinhos”, que trabalham em certos trechos de uma rede ferroviária que todos os dias recebe 45 mil passageiros.
A maioria das viagens é feita sem problemas. Os passageiros, estudantes ou trabalhadores, estão imersos em seus celulares, mal protegidos por guarda-sóis desfiados.
"Não há trânsito", diz Noemi Nives, uma mulher de 46 anos, à France Presse. "Para nós, é prático e se encaixa em nosso orçamento".
Um empurrador levanta seu carrinho enquanto um trem passa pela linha em Manila, em foto de 19 de outubro — Foto: Noel Celis/AFP
Apesar dos riscos e desconforto, os passageiros ficam felizes em ganhar tempo e dinheiro.
Danica Lorraine, de 25 anos, economiza uma hora de transporte todos os dias graças a esses carros, já que evita pegar dois ônibus extras. "É muito prático", diz. "Você só tem que ser prudente, muito, muito, muito cautelosa."
Kerkleen Bongalon, uma professora de matemática, conseguiu superar o medo que sentia, pelo menos em parte. Uma parte do seu percurso percorre cerca de 15 metros no Passig, um curso de água. Escapar de um trem envolveria saltar para o vazio e nadar.
"No começo eu tinha medo", admite. "Eu não sei nadar, então se algo acontecesse enquanto estamos na ponte, eu não sei o que eu faria."
"Mas nada vai acontecer porque os “empurradores de carrinho” conhecem os horários dos trens, eu confio neles", diz.