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quarta-feira, 24 de junho de 2020

Impacto da covid-19 sobre o futuro da energia limpa

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Diálogos da Transição
epbr.com.br | 16/06/20
Apresentada por
Quem faz
Felipe Maciel, Gabriel Chiappini,
Guilherme Serodio e Larissa Fafá
Editada por Gustavo Gaudarde
gustavo@epbr.com.br

IEA mapeia o impacto da covid-19 no desenvolvimento de projetos de renováveis

O desafio da transição no pós-pandemia começa a ficar mais claro, na leitura da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), que antecipa uma retomada mais acelerada do crescimento da capacidade renovável (geração de energia), acompanhada de uma recuperação menor no consumo de óleo (transporte).

Em números: demanda por óleo deve cair 8,1 milhões de barris/dia (-8%) em 2020 e subir 5,7 milhões de baris/dia (+6%) em 2021. A capacidade de geração renovável, por sua vez, deve cair para 167 GW (-13%) este ano e voltar a subir para 196 GW em 2021 (+17%).

A demanda menor, por mais tempo, de combustível para aviação é apontada como o principal limitador do consumo de ­óleo – uma característica específica dessa crise causada pela covid-19 e seu impacto no setor de aviação comercial. Mas isso não afasta por completo o risco de repique na demanda por petróleo, estimulada por combustíveis mais baratos.

Desafio é não repetir 2008.  

Variações anuais em emissões relacionadas ao setor de energia, entre 1900 e 2020 – após a crise de 2008, mundo registrou elevação recorde de emissões de CO2 (IEA

Com as emissões de CO2 projetadas para cair 2,6 bilhões de toneladas (-8%) em 2020, diante de um mundo mais pobre, com mais desemprego e enfrentando uma crise de saúde pública, que já matou 434 mil pessoas segundo os registros oficiais (OMS), não há motivos para comemorar, reforça a IEA.

A organização lembra que mesmo com o o achatamento das emissões de CO2 em 2019, o mundo ficou longe da meta de redução de 6% anual apontada no cenário de desenvolvimento sustentável, necessário para cumprir as metas do Acordo de Paris.

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Reconstrução verde precisa partir dos governos, defende IEA

Além da queda na adição capacidade renovável, o relatório da IEA estima que produção de biocombustíveis deverá contrair 13% em 2020, na primeira queda em duas décadas. É reflexo direto dos baixos preços do petróleo, gás natural e derivados.

Para a agência, a crise é uma oportunidade para os governos incluírem em seus planos de recuperação exigências de investimentos em renováveis, algo que poderia incentivar ainda a criação de empregos.

Algumas iniciativas estão em curso: o governo de Emmanuel Macron confirmou na semana passada que vai injetar US$ 1,7 bilhão em três anos para antecipar em quinze, para 2035, o desenvolvimento da primeira aeronave com zero emissões de carbono...

...A França também está condicionando os empréstimos bilionários para socorrer às aéreas aos planos de redução de emissões.

Nos EUA, maior mercado ocidental para geração de energia renovável, essa ideia é rejeitada. Em busca da reeleição, Donald Trump vem, inclusive, sinalizando que a prioridade será uma retomada mais acelerada da atividade econômica, um claro motor da sua popularidade nestes quase quatro anos de governo.

Em 2020, IEA projeta 23,5 GW de nova capacidade de geração renovável no país, perdendo apenas para o conjunto da Europa (22,2 GW) e para a China (72,6 GW)

    Com a crise, adição de nova capacidade de geração renovável cairá aos níveis de 2015, estima (IEA)

      Antes da pandemia, o relatório anual da IEA sobre o futuro da energia limpa Tracking Clean Energy Progress indicava que apenas 6 das 46 tecnologias monitoradas estavam "no caminho certo" para atingir metas de sustentabilidade.

      O relatório completo da IEA, em inglês, com gráficos e alta resolução e detalhamento dos comentários da agência, está disponível aqui.

      Alguns destaques:
      Eficiência energética. Antes da pandemia, setor já estava bem abaixo da melhoria anual de mais de 3% estipulada no Cenário de Desenvolvimento Sustentável da IEA. Agora, gastos com eficiência energética estão caindo entre 10% e 15%.

      Nesse cenário, políticas públicas para incentivar eficiência energética do transporte veicular a equipamentos eletrônicos residenciais são cruciais.
      Variação média anual na intensidade de energia primária, historicamente e no Cenário de Desenvolvimento Sustentável, refletindo o ajuste climático para 2018 e 2019 (IEA)
      Substituição do carvão. Espera-se que a participação das fontes de energia de baixa emissão de carbono aumente sua vantagem sobre o carvão no fornecimento de energia global em 6 p.p.

      Mas a IEA ressalta que um ganho de participação durante a pandemia se deu em muitos mercados graças à redução do consumo, que permitiu o desligamento de térmicas e não pela substituição de combustíveis mais poluentes.

      A aprovações de novos projetos hidrelétricos estão em níveis historicamente baixos; investimento em armazenamento de bateria está se estabilizando; e há tendência de queda nos gastos com redes de energia elétrica, vitais para integrar projetos de geração eólica e solar.
      Participação das fontes na geração de energia, entre 1971 e 2020 (IEA)
      Carros elétricos. As vendas globais em 2020 podem exceder levemente o total de 2019, superando 2,3 milhões de unidades, com participação recorde de 3% do mercado global de automóveis.

      A confirmação dessa previsão elevaria o número de carros elétricos em circulação para 10 milhões, algo em torno de 1% do estoque global de automóveis.

      Mas as vendas devem  ser negativamente impactadas se os governos, na resposta à pandemia, flexibilizarem exigências de emissões sobre o setor automotivo, facilitando a entrada de veículos movidos a queima de combustível fóssil.
      Vendas globais de carros elétricos em mercado
      selecionados, entre 2010 e 2020 (IEA)
      Padrões de consumo. Alterações de comportamento durante períodos de quarentena provocaram mudanças que afetaram o consumo de produtos e serviços e, consequentemente, as emissões.

      Tais mudanças podem ter impactos a longo prazo no progresso da energia limpa, a depender se aspectos positivos associados aos comportamentos podem ser sustentados após o término da crise.

      O mercado aéreo é um exemplo: estima-se que o número de passageiros em vôos comerciais em 2020 seja 35% a 65% menor que em 2019, o que afeta fortemente as emissões globais. O teletrabalho, preferência pelo uso das bicicleta nas cidades e regras de eficiência no consumo de energia por edifícios residenciais são pontos que devem influenciar esse futuro.
      Reserva de passagens em voos comerciais, entre 2019 e 2020 (IEA)
      Menos recurso para a transição. A crise pode tornar a redução de emissões ainda mais difícil em setores gravemente afetados, como transporte aéreo e marítimo e a indústria pesada.

      Margens mais apertadas e menos tecnologias escalonáveis são pontos de preocupação na indústria, que podem impedir a redução de emissões. 

      Pacotes de estímulo são extremamente importantes, mas projetos de eficiência energética, eletrificação, reciclagem de materiais e captura de carbono também são apontados como opções pela IEA.

      Destaque para projetos de captura de carbono (CCUS), onde há potencial para mais que dobrar a taxa global de captura de quase 40 milhões de toneladas de CO2 por ano.
      Projetos CCUS de larga escala em desenvolvimento, entre 2013-2020 (IEA)

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