Corrida pelo petróleo do Ártico alimenta disputa pela região
Desde o final de setembro, trinta ativistas do Greenpeace estão presos
na Rússia, entre eles a bióloga brasileira Ana Paula Alminhana Maciel. O
motivou a prisão foi um protesto no Mar de Barents contra a exploração
de petróleo no Ártico. Enquanto isso, um barco quebra-gelo russo conduz a
tocha olímpica pelo Pólo Norte.
Em 2007, uma bandeira da Rússia foi colocada sobre o mar congelado dessa
região, onde novamente o Exército desse país marca presença. O
presidente russo, Vladimir Putin, não esconde seu interesse nos
preciosos recursos enterrados no fundo do oceano no Ártico.
Estima-se que a região abrigue 13% das reservas de petróleo ainda não
descobertas e 30% das de gás natural. O aumento constante do preço da
energia e o derretimento das calotas polares, devido ao aquecimento
global, só aumenta o interesse pelo Polo Norte.
A dura reação do governo russo em resposta ao protesto dos ativistas
revela quão importante o Ártico é para o país. Enquanto o Greenpeace
reforça sua campanha contra a exploração de petróleo no território
gelado, a corrida pelos recursos minerais no polo continua.
TERRA DE MUITOS
As fronteiras no oceano Ártico ainda não foram definidas. Quando os
recursos estão localizados próximo à costa – até 200 milhas marítimas -,
a soberania é clara. Mas estima-se que existam depósitos além desse
limite. Como a previsão é que esses recursos offshore estejam mais
acessíveis no futuro, os países com fronteira nessa região querem
assegurar o direito ao acesso o mais rápido possível.
Estados Unidos, Canadá, Dinamarca, Noruega e Rússia, por exemplo,
reivindicam a exploração do solo marítimo na região. A decisão sobre a
reivindicação de territórios será tomada no âmbito da Convenção das
Nações Unidas de Direito Marítimo. Esses países já reuniram dados na
tentativa de provar que o solo em questão é continuidade de sua
plataforma continental.
No entanto, mesmo sem uma definição, esses países e também companhias
petrolíferas já iniciaram seus negócios. Em 2010, Noruega e Rússia
assinaram, por exemplo, um acordo sobre as fronteiras no Mar de Barents e
no Oceano Ártico, facilitando a busca por petróleo na região.
Canadá, o país que possuiu atualmente a presidência do Conselho Ártico,
já afirmou que o desenvolvimento no Polo Norte tem prioridade.Estados
Unidos e Dinamarca aumentaram suas atividades no Ártico. A maioria dos
países e das empresas estatais e privadas, como Rosneft, Statoil, Eni,
ExxonMobil e Shell, estão na busca por petróleo.
RISCOS PARA O AMBIENTE
Depois do vazamento de petróleo no Golfo do México, em 2010, cresceram
as preocupações sobre possíveis consequências de um acidente dessas
dimensões no Ártico. A reação da indústria petrolífera foi criar um
programa para estudar os riscos.
O site do programa reconhece que os desafios da exploração economica na
região são maiores que em outros locais do mundo, devido ao gelo, às
distâncias, condições climáticas e à falta de infraestrutura. Além
disso, afirma que a indústria precisa assegurar o respeito ao meio
ambiente e à população nativa.
O Greepeace afirma que isso não está acontecendo. Os ativistas temem os
danos que o desenvolvimento industrial pode causar no meio ambiente
naquela região. O petróleo se decompõe bem devagar em água gelada e
ainda não há tecnologia para removê-lo completamente nessas condições.
Até hoje, é possível encontrar vestígios do vazamento de um navio na
costa do Alasca, que ocorreu em 1989.
ANÁLISES AMBIENTAIS
A União Europeia também desenvolve um estudo sobre as consequências da
exploração para o meio ambiente da região, que deve ser publicado em
2014. Segundo o Centro Ártico da União Europeia na Finlândia, os efeitos
desse negócio para a população local seriam enormes, enquanto os lucros
financeiros seriam revertidos para regiões distantes.
Apesar das ressalvas, a União Europeia vê o Polo Norte como uma fonte
futura de petróleo e gás. que poderia assegurar o abastecimento
energético nas próximas décadas. Já os ativistas do Greenpeace lutam
pela criação de uma área de proteção ambiental em torno da região. Além
do ecossistema, a campanha visa proteger o clima global.
Juntamente com outras organizações, o Greenpeace chama a atenção para os
efeitos sobre o clima com o uso de combustíveis fósseis. Se explorado, a
queima do petróleo do Polo Norte impulsionaria o aquecimento global e
aceleraria o derretimento das calotas polares. Para evitar um
aquecimento maior do que 2°C, dois terços dos recursos minerais
precisariam permanecer no solo, segundo uma análise da Agência
Internacional de Energia.